Passando
a limpo (*)
Cheguei aqui com a intenção
de lhe rever e encontrar. Colocar tudo em pratos limpos. Tudo o que aconteceu
sem o nosso consentimento, ou sem a nossa autorização. Mas não tinha ideia de
como ia lhe encontrar. Não tinha ideia da sua situação atual, do seu estado emocional,
e do seu estado conjugal. O primeiro passo foi passar um e-mail com um texto
formal e casual, dizendo que caso você pudesse, ou caso você quisesse eu
gostaria e poderia lhe encontrar.
Um e-mail foi enviado, e o
e-mail foi respondido. Trocando informações por e-mail, um encontro foi marcado
com data, hora e local previamente combinado. O encontro foi marcado e aconteceu,
um almoço. E no dia seguinte, após o encontro, formalmente você enviou um
e-mail, dizendo o quanto tinha sido agradável sua tarde. Um e-mail ético e
educado, enviado por uma pessoa ética e educada. Até lembrei-me de um fato que
certa vez você comentou. Uma amiga sua de trabalho, certa vez comentou com você,
que era de bom tom, e socialmente correto, enviar uma correspondência de
agradecimento para um anfitrião que tenha oferecido uma reunião ou uma
comemoração. Você um dia me contou esta historia, e você inconscientemente fez,
um e-mail de agradecimento pela minha presença e companhia. Eu não era o
anfitrião, mas um visitante que chegou à cidade, vindo de um estado distante.
Você até se ofereceu para fazer um tour
pela cidade comigo, rever a cidade que estive ausente por três anos. Combinamos
de partir da Tijuca, subir de carro pelo Alto da Boa Vista e chegar até a Barra
da Tijuca. Depois voltar pela orla passando por São Conrado, Leblon, Ipanema e
Copacabana, seguindo pelo Aterro passando por Botafogo e Flamengo. O mesmo trajeto que eu fazia quando
visitantes vinham para a nossa casa e desejavam conhecer a cidade. O passeio
não aconteceu, por imprevistos departamentais e organizacionais educacionais,
este foi o seu argumento do não acontecimento.
O e-mail enviado após o
encontro, ainda foi acrescentado de lembranças de nossa convivência anterior, O
tempo muda e evolui, você aprendeu com a sua amiga que se deve agradecer por
meio de um cartão ou telefonema, hoje os meios de comunicação são outros. E da
mesma forma você faz postagens em rede social, na internet, quando sai com
amigas. Faz postagem de cenas e retratos, coloca mensagens e legendas de quanto
foi bom estar com aquelas companhias. E como é uma rede social, as postagens
recebem likes, compartilhamentos e
comentários, que depois precisam ser observados e as vezes até tecidos de novos
comentários.
Um segundo encontro
aconteceu, e logo chegou o terceiro encontro. Uma nostalgia e uma
possibilidade, de um passar tudo a limpo me ocorreu. E fui tentando passar a
limpo tudo que um dia aconteceu. E nesta tentativa de passar a limpo você me
ofereceu folhas usadas e amarrotadas. Folhas que só possuíam um lado livre para
escrever. À medida que escrevia no lado em branco, o lado do verso da folha,
podia ver o que estava escrito no anverso. Podia ver tudo que foi escrito como
prioridade no uso daquela folha. Encontrei ofícios, circulares, relatórios e
mais tantos outros documentos de um ambiente trabalhista, documentos que
circulam em departamentos, colóquios e reuniões. Documentos de estabelecimentos
de ensino governamental.
Depois dos dois ou três encontros
eu resolvi ficar. Resolvi aumentar a minha estadia na cidade. Ficar em vista da
possibilidade de você adiantar valores de uma divida que sua irmã tem comigo. Uma
possibilidade que você mesmo sinalizou, dispondo-se a me adiantar valores de
uma divida que não é sua. E concordou que a divida mesmo assim não estaria
quitada, que a divida não era sua, mas da sua irmã. Sua irmã continua me
devendo valores. Como outros parentes seus, me devem objetos, retirados sem o
meu consentimento, conhecimento e autorização. Objetos retirados da nossa casa,
sem o nosso consentimento, conhecimento e autorização. Assim eu suponho que
você também não autorizou, prefiro pensar assim.
Com estes valores monetários
oferecidos, eu poderia ficar mais tempo e dar mais tempo para você. Obsevar seu
comportamento. Obsevar suas mudanças. As pessoas não mudam, mas podem aprender
a se adaptar, em novas situações. As pessoas precisam saber se adaptar a
situações. São as estratégias de sobrevivência social, e até psicológica.
Observando as frentes usadas
das folhas que você me ofereceu, notei que muitos documentos e muitos
relatórios eu ajudei a fazer. Ajudei de maneira diversa, dando opiniões ou
sugestões, a redação final foi sempre sua. E alguns textos, eu posso ate
lembrar por simplesmente ouvir você comentar. Eu tinha por habito estar sempre
presente, e sempre por perto, enquanto você construía relatórios e aulas
emergenciais para o dia seguinte. Cheguei até corrigir provas para você. Você
dizia que eu era seu interlocutor, que podia falar de tudo, que escutava e
opinava, apoiava suas decisões. E por eu ser um interlocutor para assuntos de
trabalho, acabou que uma parte de departamento funcionava na nossa casa. Era
uma situação constante, de ler e responder e-mails, atender telefones fixos e
celulares, fazer ligações para uns e outros. Tudo para atender uma demanda fora
do horário comercial.
Com tantas folhas usadas que
você me ofereceu chego a uma conclusão. Você não tem folhas limpas para que eu
possa escrever e rabiscar nos dois versos das folhas. Talvez as suas folhas
limpas e novas, estejam reservadas para assuntos de trabalho, ou outros assuntos
que eu não possa saber, já que ainda não estão escritos. Não tive oportunidades
de olhar sua lixeira e investigar o que contem nos papeis amassados.
Muitos daqueles papeis que você
me ofereceu, eu lhe ajudei a escrever. Artigos, textos, e até uma tese.
Enquanto você escrevia eu cuidava de outros afazeres de uma casa. Cuidava para
que você tivesse um café ou um suco em breves intervalos entre um texto e
outro. Cuidava para que você tivesse uma refeição quando estivesse muito
cansada. Levei sua filha para escola, algumas lições de matemática eu também
ensinei. Você mesmo já disse que eu lhe apoiava e empurrava para cima. Enquanto
você escrevia a tese eu também podia estar na rua pesquisando livros,
levantando dados para ilustrar e acrescentar á tese. Até em cemitério eu fui
para pesquisar túmulos de pessoas que estavam elencadas na tese.
Em algum dia recente você
disse que a sua decisão de não ocupar a posição de titular foi a falta da minha
presença para lhe incentivar. Tenho outras opiniões. Alem da minha falta, foi a
sua falta de tato e habilidade em administrar problemas e pessoas a sua volta. A
sua inabilidade em administrar conflitos. Ser um titular é ter uma habilidade
para administrar. Administrar ideias, pessoas com problemas e conflitos. Saber
distinguir o que é assunto de trabalho, e o que é assunto particular, que
deveria ter ficado em casa. Estabelecer prioridades no trabalho, quem pode
contribuir mais, ou melhor, com a produção do conhecimento. Ser a bussola
departamental, a pessoa de referencial congregacional, uma líder de grupo. Líder
não no conhecimento, mas na habilidade em conduzir pessoas, exercer uma função
de Coaching. Enquanto você não tiver
habilidade para ser titular, vai se submetendo e sendo estafeta de titular,
aprendiz. Posição pouco eletiva para uma pós-doutora.
Você esta sempre esperando
que o problema se dissolva sozinho. Basta observar hoje, você faz tudo em
condições emergenciais. Como você mesmo dizia, esta sempre apagando incêndios.
Não pratica uma prevenção, uma vistoria permanente e preventiva. Vive a vida da
mulher do fogo, um dia você pode não conseguir sair viva de um incêndio. Já tem
se queimado bastante, com pessoas e situações. Vive uma vida de bombeiro
preservando as vidas e os bens dos outros, uma maioria de estranhos. Tem a
missão do soldado do fogo. Sem preservar ou cuidar da sua própria vida e de seus
próprios bens. Não se pode deixar com você uma vida ou um bem, que você pode não
ter tempo para se ocupar em cuidar e tomar conta. Você tem imbuída em si a
missão de salvar, mas não de cuidar. A missão do cuidar você deixa para as
enfermeiras que sabe formar.
Hoje eu também escrevo, e
percebo que você não faria tudo o que fiz. Certa vez você me disse que eu havia
lhe provado que moraria em qualquer lugar com você. Em qualquer casa, sem
importar distancia ou conforto. E você também não moraria em qualquer lugar
comigo.
Certa vez eu lhe disse para
ler a Bíblia. Sem a necessidade de fazer um olhar religioso, mas para fazer um
olhar sociológico. E na Bíblia esta escrito, que quando um homem e uma mulher
resolvem se casar, devem abandonar a casa dos pais e formar um só corpo. Você não participou deste um só corpo, não
abandonou a casa dos pais. Deixou-os mexerem nas coisas que me pertenciam, ou
nos pertenciam. Você não formou um só corpo. E de tudo que foi subtraído, a
metade me pertencia, a partir de uma visão de um só corpo. Deixou que os
próprios pais e parentes seus mexessem, que fizessem um inventario e uma
partilha. Sem se importar, sem mover uma palha contra as suas atitudes. Antes, durante e depois da separação. O
castigo vem chegando a cavalo. Enquanto você tem suas visões cientificas,
fisiológicas e ortodoxas, eu tenho as minhas ocultas, doutrinais e cármicas.
Formar um só corpo pode ter
vários significados. Como por exemplo, tomar decisões juntos. Traçar um rumo e
buscar alcançar um objetivo juntos. Na ausência do outro se comportar como o
outro estivesse ali. Defender o espaço do outro. Defender o espaço, a opinião e
os pertences do outro. Você não defendeu antes, durante e depois da separação. E
continua a não defender.
Uma ex-sogra da sua filha
era tida pelos seus pais como uma mulher ignorante. E você lembra o que
acontecia periodicamente na casa dela? Pais e filhos se reuniam para colocar
assuntos internos e domésticos em dia. Tal como uma reunião departamental onde
todos os professores são convocados. Ate a sua filha participou em algumas
destas reuniões. E parecia dar certo, os problemas eram resolvidos dentro de
casa e não na casa da sogra. Pelo menos se
supõe que as estratégias davam certo. Eu mesmo não tenho noticias de
informações que vazaram do sistema que eles criaram, e isto já da uma ideia de
que deu certo.
As pessoas não mudam de
visão ou de comportamento. O máximo que podem fazer é tentar se adaptar umas as
outras, e para isto acontecer é necessário que ambos os lados façam concessões.
E um não pode ceder mais que o outro.
Hoje eu preciso alem de uma
companhia, preciso de uma interlocutora. Uma pessoa que possa ler o que escrevo:
organizar os textos, formatar, montar um livro ou criar uma história. Tal como
um dia eu fiz com você. Tivemos sempre uma oportunidade de recomeçar.
*
Esta é uma história de ficção. Qualquer semelhança com casos ou pessoas terá
sido mera coincidência
* This is a fictional story. Any resemblance to actual
cases or persons is
entirely coincidental
* Esta es una historia de ficción. Cualquier parecido
con casos reales o personas es mera
coincidencia
Texto
disponível em:
Rio de Janeiro/RJ ─
07/10/2014
|
||||
Texto produzido para:
|
Palavras Chaves: gestão; qualidade; conhecimento
Palabras Clave: gestión; la calidad; el conocimiento
Key Words: management; quality; knowledge
|
|||
CMEC/FUNCARTE
Cadastro Municipal de Entidades Culturais da Fundação Cultural
Capitania das Artes
Natal/RN
|
Roberto
Cardoso
|
|||
![]() |
PRÊMIO
DESTAQUES DO
MERCADO - INFORMATICA 2013
Categoria Colunista
em Informática
|
|||
VOTE: Acesse o link
Votação:
JULHO a OUTUBRO de 2014
|
Candidato
DESTAQUES DO MERCADO - INFORMATICA 2014
|
|||
- Clique na figura
- Escolha a categoria e o
candidato
- Aguarde e-mail de
confirmação
|
![]() |
Categoria: Colunista
em Informática
Categoria: Segurança
da Informação
Informática
em Revista-Natal/RN
|
||
Cientista Social
Jornalista Científico
Reiki Master & Karuna Reiki Master
|
Colunista/Articulista
Informática
em Revista - Natal/RN
Informática
em Revista - João Pessoa/PB
|
|||
Sócio
Efetivo do INRG
(Instituto
Norte-Rio-Grandense de Genealogia
|
Sócio Efetivo do
IHGRN
(Instituto Histórico
e Geográfico do Rio Grande do Norte)
|
|||
Link Curriculo Lattes
|
||||
E-MAIL: rcardoso.gti@terra.com.br
|
E-MAIL: forummaracaja@gmail.com
|
E-MAIL: rcardoso277@yahoo.com.br
|
||